segunda-feira, 5 de julho de 2021

Carmine Mirabelli (SP)

Nasceu em 02/01/1889 na fazenda Lageado na cidade paulista de Botucatu. Faleceu no dia 1 de maio de 1951, com 62 anos, atropelado por uma lotação na avenida Nova Cantareira. Tipo de morte prevista pelo médium segundo relato de seu neto Luiz Mirabelli Júnior. Filho primogênito de Luigi Mirabelli, um pastor protestante italiano e de Christina Scaccioto Mirabelli.

O escritor Jorge Rizzini afirmou que o seu nome verdadeiro, ou correto seria Carmílio Mirabelli.

O jornal O Estado de São Paulo, em 18 de maio de 1916 cobriu a materialização. O Vanguarda, de fevereiro de 1933, abordou a materialização, pelo médium, do espírito de São Francisco de Assis

Faleceu vítima de acidente de trânsito, por atropelamento. Conduzido ao Hospital das Clínicas de São Paulo, veio a falecer sendo atestada a fratura do seu crânio como "causa-mortis". O corpo foi sepultado na tarde de 1º de maio de 1951 na campa 155 da quadra 27, no Cemitério São Paulo.

Era muito eloqüente e comunicativo, apreciava a natureza e gostava de fumar charutos e cachimbos. Mirabelli era portador de diabetes.

Provavelmente o médium brasileiro de efeitos físicos que apresentou mais tipos diferentes de fenômenos. Apresentou diferentes mediunidades como a clarividência, psicografia em cerca de 30 linguas, xenoglossia, psicofonia, psicopictografia (deixou cerca de 300 quadros), levitação de seu próprio corpo e de objetos, transporte de de seu próprio corpo e de objetos, tiptologia, execução de instrumentos musicais sem ter essa capacitação, bem como de cantor em transe cantando com voz de tenor, barítono e baixo.[1] Em alguns transes mediúnicos Mirabelli apresentava rigidez cadavérica, em outras alterações, como temperatura de até 39 graus, pulsação entre 120 e 150.

Mirabelli estudou até o terceiro ano primário e ao falar cometia vários erros, embora em transe se manifestasse em português correto.

Academia de Estudos Psychicos (depois Centro de Estudos Psichicos) “Cesar Lombroso” (S. Paulo), Instituto Psíquico Brasileiro de S. Paulo, Instituto Psíquico Brasileiro de Niterói, Academia Brasileira de Metapsychica (Rio de Janeiro).

O periódico O Estado de São Paulo, em 18 de maio de 1916 cobriu a materialização, pelo médium, do espírito do ex-bispo da Diocese de São Paulo, D. José de Camargo Barros, em sessão ocorrida na cidade de Santos. Estiveram presentes médicos e oficiais da Força Pública de São Paulo. O Vanguarda, de fevereiro de 1933, abordou a materialização, pelo médium, do espírito de São Francisco de Assis.

Carlos Inglez de Souza no seu livro Padre Zabeu Kauffman. Espírito Missionário do Além registra que o médium Mirabelli teve três casamentos e cinco filhos. Morreu depois de ser atropelado, fraturou o crânio e ter entrado em coma. Fernando Portela menciona o mesmo em seu livro Além do Normal.[2]

A sua própria levitação causou muita polêmica e até recentemente foi publicada na Internet, como suspeita de fraude.

Depoimento do neto do médium, Luiz Mirabelli Júnior sobre a suspeita de fraude levantada na época em relação a foto com sua levitação, em junho 2013: “Gostaria que você soubesse que a fraude não fazia parte da vida mediúnica do meu avô. Com relação a foto da levitação, personalidades paulistanas da mais alta patente e cientistas do mundo presentes naquele dia do ano de 1933 iriam compactuar em uma fraude de tamanha repercussão, pois acredito que talvez você não saiba que Carmine Mirabelli não iria sujar o seu nome em uma fraude tão vulgar e envolver o nome das ilustres personalidades cientificas do Brasil e do mundo que estudavam o fenômeno Mirabelli e que estavam ali naquele dia.”

Faleceu vítima de acidente de trânsito, por atropelamento. Conduzido ao Hospital das Clínicas de São Paulo, veio a falecer sendo atestada a fratura do seu crânio como “causa-mortis”. O corpo foi sepultado no Cemitério São Paulo.

 

Correio Paulistano – Sexta-feira, 9 de junho de 1916, página 2

No mundo das maravilhas. É mister que se faça luz na noite do mistério. O sr. Carlos Mirabelli, a nosso ver, não passa de um hábil prestidigitador.

Como temos anunciado, o sr. Carlos Mirabelli, aceitando o repto lançado por esta folha, realizou já duas sessões em nosso salão nobre, sem que conseguisse produzir o mais ligeiro fenômeno de mediunidade. Estamos certos mesmo de que os não produzirá, dada a vigilância dos nossos representantes e de outros cavalheiros que constituem o júri que o deve julgar, e cuja perspicácia não se pode pôr em dúvida.

Todavia, a benevolência com que o “Correio Paulistano” se tem portado neste debatido caso, vai já causando estranheza. Exigidas do sr. Mirabelli cinco sessões, dentre as quais devia e deve ficar tudo esclarecido, são já decorridos 22 dias e apenas duas sessões se realizaram. E não é que o prestidigitador precise de repouso, pois que de contínuo se submete, fora desta casa, a todas as provas em residências particulares, onde o “sucesso” se não faz esperar, onde os fenômenos se multiplicam. Ainda ontem, anuncia a “Gazeta”, uma nova e extraordinária sessão se realizou, em que novos e extraordinários fenômenos se produziram. 

Tão fora do comum foram as proezas do pseudo médium, que de tudo se lavrou uma ata… Uma gaveta girou sobre o gargalo de uma garrafa e uma lâmpada se acendeu. Foi tudo, mas foi muita. Pois bem: o “Correio Paulistano” precisava demonstrar, com fatos, que o que se transformou nas já tão praticadas experiências do sr. Mirabelli não foi o cabelo em espírito, mas simplesmente o lápis em gaveta… E, incontinenti, na presença de numeroso auditório, fez, sobre uma simples garrafa, movimentar-se uma gaveta que pesa cinco quilos e que mede 0,58 x 0,61, maior, portanto, que a de ontem, lá para as bandas do Braz, causou assombro à grande assistência de que fala a nossa colega vespertina.  E não fez somente isso: acendeu também uma lâmpada das que se achavam no candelabro e mais uma ainda que repousava sobre a mesa do nosso salão nobre, sem nenhum contato com o fio da eletricidade.

De tudo quanto, a esse propósito, ontem se passou nesta redação, foi uma ata também lavrada e assinada por pessoas insuspeitas e de inteira idoneidade. Ninguém, porém, das que assinaram, desconhecia a existência do “truque”, que, todavia, não foi absolutamente percebido na ocasião em que se realizavam os “fenômenos”, conforme se vê da declaração firmada pelos srs. drs. Reynaldo Porchat e Bueno de Miranda.

O “Correio Paulistano” não encara esta questão sob o ponto de vista científico, isto é, não nega que as manifestações atribuídas ao sr. Mirabelli se possam realmente dar; o que negamos, com fundamentos que serão dentro em breve publicados, é que o sr. Mirabelli as produza sem embuste. E como os fatos, até agora realmente observados, provam que tanto “lá” como “cá” as manifestações se realizam com a mesma ilusão dos assistentes, razão não há para que se afirme afoitamente que a idéia da prestidigitação seja afastada pelo só motivo de que Mirabelli negue a existência do “truque”.

Precisamos não ser ingênuos….

Nós, abaixo assinados, reunidos na redação do “Correio Paulistano”, assistimos ao seguinte:

Posta uma gaveta de cinco quilos em cima do gargalo de uma garrafa, em posição de equilíbrio, vimos deslocar-se essa gaveta em sentido rotativo, sem contato absolutamente nenhum com o operador, sendo que na última houve também movimento de subida e descida das extremidades da gaveta, movimento de gangorra, que terminou pela queda da mesma, queda que se estendeu igualmente à garrafa. 

A gaveta media sessenta e um centímetros de comprimento por cinqüenta e oito de largura, pesando cinco quilos.

S. Paulo, 8 de junho de 1916.

REYNALDO PORCHAT – Declaro ter assistido à experiência a que se refere a ata supra, em condições semelhantes a que me achava ontem á noite, na casa do sr. coronel Goulart. Depois da experiência me foi mostrado o – truque – por meio de um fio de cabelo, que eu absolutamente não tinha visto antes de me ser mostrado pelo operador.

Em virtude do que VI na aludida casa, ontem, à noite, sendo operador o sr. Mirabelli, e do que acabo de VER,  na redação do “Correio Paulistano”, continua o meu espírito na mesma dúvida quanto á existência ou não de embuste para a produção dos fenômenos provocados por aquele sr. O meu juízo definitivo somente poderá ser manifestado, com convicção, depois de realizadas as cinco sessões, exigidas pelo “Correio Paulistano”, em uma das salas da sua redação. 

Dr. Bueno de Miranda, subscrevendo a declaração do dr. Reynaldo Porchat.

Nestor Pestana, Manuel Leiroz, Gelasio Pimenta, José Alves de Cerqueira Cesar Netto, Roberto Botelho, Sylvio de Andrade Maia, Aristéo Seixas, J. F. de Mello Nogueira, Julio de Mesquita Filho, João Alberto de Salles Filho, Theseu da Costa Negraes, W. Rodrigues, Antonelli Salles.

 

Alcyr Porchat – (Declaro que esta experiência me foi feita às 4 e meia da tarde, achando-me a metro e meio de distância da referida gaveta, sendo que não percebi “truque” algum. Depois de feita a experiência, o operador demonstrou-me que a realizara com um fio de cabelo de mulher. – Alcyr de L. Porchat.)

 

A fraude também é comentada por Philippe Piet van Putten.

Como notamos, levitar com os pés sobre uma escada não era o único feito do médium. Para fazer levitar um lápis, por exemplo, ele dizia que o lápis “molhado” não servia. Precisava “secar” o lápis, que é quando se supõe que prendia um fio de cabelo para poder “levitá-lo”. O engraçado é que algumas pessoas sentiam o fio de cabelo, mas achavam que era um fio de ectoplasma! Tenha tais exemplos em conta ao observar a fantabulosa materialização de Giuseppe Parini, um espírito com peruca e pintado de preto sem nenhuma semelhança com o poeta vivo.

A famosa fotografia da levitação é uma trucagem fotográfica grosseira, em que a escada em que estava o “médium” foi apagada:

mirabelli2 fortianismo ceticismo

Note sinais óbvios de adulteração — além do detalhe de que um sujeito levitando manteria os pés perfeitamente alinhados

Correio da Manhã – RJ 24/04/1940

Prisão do médium Mirabelli, diretor do Instituto Psychico Brasileiro,  pela Delegacia de Costumes de São Paulo, por estelionato, exploração da crendice popular e calúnias.

Livros

(Inteiros sobre Mirabelli, que estamos reeditando)

O Médium Mirabelli Mistifica ? - Miguel Karl - Papelaria Brasileira (São Paulo, SP) - 68 páginas - 1929;

O Médium Mirabelli - O que há de verdadeiro nos seus "milagres" e a sua discutida mediunidade posta em prova - O Resultado de um Inquérito. Editado por Rodolpho Mikulasch - Estabelecimento Graphico Radium (Santos, SP) - 76 páginas - ilustrado - 1926;

Prodígios da Biopsíquica obtidos com o Médium Mirabelli - Experiências com o famoso metérgico e documentado estudo de psiquismo fenomenal - Eurico de Góes - Typographia Cupolo (São Paulo, SP) - 472 páginas - ilustrado - 1937;

Honra ao Mérito - Miguel Karl e Dr. Olavo Leite (São Paulo, SP) - 76 páginas - ilustrado - 1937;

Martírio e Glória do Professor Carmine Mirabelli. Tipografia Cultura (São Paulo, SP) - 84 páginas - ilustrado - 1944;

Martírios e Acrisolamento do Médium Mirabelli - Fatos que se prenderam à Casa de Caridade São Luiz - Miguel Karl - Heros Graphica Editora (São Paulo, SP) - 61 páginas - 1930;

Mensagens do Além, obtidas e controladas pela Academia de Estudos Psíquicos César Lombroso, através do celebre Médium Mirabelli (Heros Graphica Editora, 1929);

Cultura Espiritual sem Fanatismo (Sociedade Impressora Paulista, 1932)

 

Livros que dedicam algum capítulo sobre Mirabelli

Enciclopédia de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo - João Teixeira de Paula - Cultural Brasil Editora (São Paulo, SP) - 3 volumes - ilustrada - 3ª Edição - 1973;

O Espiritismo Científico e as Extraordinárias Mediunidades do Sr. Carlos Mirabelli - Dr. Carlos Pereira de Castro - Sociedade Impressora Paulista (São Paulo, SP) - 72 páginas - 1930;

Mistérios e Realidades deste e do Outro Mundo - A. da Silva Mello. Livraria José Olympio Editora (São Paulo, SP) - 649 páginas. Capítulo 18 (páginas 483 - 491) dedicado a Carmine Mirabelli. Segunda edição, aumentada, de 1950;

O Espiritismo à Luz dos Fatos - Carlos Imbassahy - Federação Espírita Brasileira (Rio de Janeiro, RJ) - 404 páginas - Contém o capítulo "Carlo Mirabelli" (páginas 243 - 247) - 1935;

Science and Parascience: A History of the Paranormal, 1914-1939 - Brian Inglis - Hodder and Stoughton (London, England) - 1984;

São Paulo Nesse Tempo (1915 - 1935) - Jorge Americano - Edições Melhoramentos (São Paulo, SP) - 423 páginas. "Mirabelli" na página 158 (Edição de 1962 ?);

The Flying Cow - Guy Lyon Playfair - Souvenir Press (London, England) - (páginas 78-110) - 1975;

 

Artigos em revistas e jornais como Folha de SP, O Estado e SP, O Correio Paulistano, JSPR (Jornal da Sociedade de Pesquisas Psíquicas de Londres), JASPR e outros como:

The Mediumship of Carlos Mirabelli - Theodore Besterman - Journal of the Society for Psychical Research (London, England) - páginas 141-153 - Dezembro de 1935;

The Amazing medium Mirabelli - Gordon Stein - Fate Magazine (USA) - páginas 86-95 - Março de 1991;

O Fenômeno Mirabelli - Jorge Rizzini - Planeta - Editora Três (São Paulo, SP) - Número 31 - páginas 86-93 - ilustrado - Março de 1975;

 Le médium Carlos Mirabelli - Journal d'Études Psychologiques - La Revue Spirite (Paris, França) - páginas 463 e 464 - Outubro de 1928;

Le médium Mirabelli, ou... Un voyage dans le fantastique - Revue Métapsychique (Paris, France) - n. 2 - páginas 149-153 - Março-Abril - 1927;

Mirabelli and the Phantom Ladder - Guy Lyon Playfair - Journal of the Society for Psychical Research (London, England) - Volume 58 - Number 826 - páginas 201-203 - ilustrado - Janeiro de 1992;

Fronteiras do Desconhecido: Carmine Mirabelli - Elsie Dubugras - Planeta - Editora Três (São Paulo, SP) - Número 130 - páginas 52-57 - ilustrado - Julho de 1983;

A mediunidade de Mirabelli atestada por Hans Driesch - Revista de Espiritismo (Lisboa, Portugal) - Número 5 - páginas 189 e 190 - ilustrado - Setembro-Outubro de 1928;

An Amazing Case: The Mediumship of Carlos Mirabelli - Eric J. Dingwall - Journal of the American Society for Psychical Research (USA) - Vol. 24 - página 296 - 1930;



[1] Mirabelli: A vida e os feitos - Série Grandes Médiuns - Editora Três Ltda. (São Paulo, SP) - 34 páginas - ilustrado – 1975.

[2] PORTELA, Fernando. Além do Normal. Um repórter investiga os mistérios do paranormal. Traço Editora. São Paulo. 1984.


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